COLEÇÃO NEVROSE


Coleção composta apenas de Autores Latino-Americanos.
Formato padrão: 20cm x 13,5cm — Miolo em papel pólen soft, 80gr.
Guarda em Vergê 180gr — Capa em VergêMarrakech ou Color Plus 180gr.
Média de 130 a 150 págs.
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O Grande Traído
Adolfo Montiel Ballesteros (2023)
Brochura, 148págs.
Tiragem de 50 exemplares.
- Coleção Nevrose 05
Revisão de Márcio Simões.
Capa: Figura con paisaje de ciudad (1917) 
de Joaquín Torres García (1874-1949)

Disponível
R$ 35,00 (+ R$ 8,00 de envio - registrado econômico)

Nas suas narrativas breves, Adolfo Montiel Ballesteros (1888-1971) vai do conto de proto-ficção científica, passando pela nevrose decadentista herdada do Modernismo, até o fantástico, quase sempre numa estrutura singular e perpassada pelo humor.

Contos: Alguns sinais negros / Juventude / O fotopsicomentógrafo / Um homem que eu não conheço / Um verme / Os raios X / O mago de Rocacapilla / 32.584.007 / O elo perdido / O sinal na rabadilha / Meu amante Julián Coronel / O fluido K / 20 Blasco Ibañez / A volatilização / O grande traído.

 

 

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Contos fantásticos
Rubén Darío (2022)
Brochura, 136págs.
Tiragem de 50 exemplares.
- Coleção Nevrose 04
Tradução de Camilo Prado
Revisão de Márcio Simões
Capa: Junge Frau im ästhetischen Stil Kleid mit einer Kugel, 1894, 
de Carlos Schwabe (1866-1926).

Disponível
R$ 35,00 (+ R$ 8,00 de envio - registrado econômico)
Rubén Darío (1867-1916) é muito mais conhecido como poeta do que como contista. Ainda que sua obra poética seja pequena em comparação àquela em prosa. Considerando seus contos, novelas, textos autobiográficos e ensaios, sua poesia é próxima de um terço das suas obras completas. Mas esta fama de poeta em detrimento daquela de prosador, deve-se a força de sua poesia. Talvez ele seja o único ao qual se pode sem exageros dar o epíteto de o maior poeta das Américas. Ele é o primeiro poeta hispano-americano a ultrapassar o Atlântico e levar o modernismo à Espanha. Todas as crianças hispano-americanas o estudam na escola; todos os poetas hispano-americanos o conhecem. Pois ele não é apenas um poeta nicaragüense, ele é um poeta pan-americano.
   Mas um poeta que, se foi ávido leitor de Victor Hugo e Paul Verlaine, também foi de Allan Poe, Adolfo Bécquer e Villiers de L’Isle-Adam. É na proximidade desses que se encontram seus contos fantásticos. Evidentemente com o traço firme de sua originalidade, que se poderia resumir em algumas características: brevidade, um senso muito próprio de humor e determinada cor local, melhor, continental. Esta última característica, por exemplo, encontramos aqui com muita evidência nos contos “D. Q.”, “A larva” e “Huitzilopoxtli”.
Porém, suas histórias não são propriamente “terroríficas” e não visam causar medo, mas muito mais entreter o leitor através da magia da linguagem. Uma linguagem graciosa e onírica, ora leve, própria de textos de revista, ora intelectual e irônica, própria da estética modernista da qual ele foi o grande arauto em nosso continente. 

   "O Modernismo foi para mim o movimento literário mais importante da literatura espanhola e foi muito injusto quando se disse que tudo o que eles escreveram já estava mais ou menos prefigurado e talvez ultrapassado em Hugo, em Verlaine. Mas esses livros estavam ao alcance de todos e no entantanto nem todos foram Rubén Darío."
Jorge Luis Borges


Contos: Thanathopia / O pesadelo de Honório / A estranha morte de frei Pedro / D. Q. / O conto de Martín Guerre / Conto de Páscoas / O pássaro azul / Conto de véspera de Natal / O caso da senhorita Amélia / O Salomão negro / A larva / Huitzilopoxtli / A morte de Salomé / Vermelho / A fumaça do cachimbo.


 

 



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Uma velha casa submarina
Camilo Prado (2022)
Brochura, 156págs.
Tiragem de 50 exemplares.
- Coleção Nevrose 03
Revisão de Márcio Simões.
Capa: Polycyttaria, ilustração de Formas de arte da natureza, 1904 
de Ernst Haeckel (1834-1919) e Arraia do sul (Dasyatis americana).

Disponível
R$ 35,00 (+ R$ 8,00 de envio - registrado econômico)
Aquisição: edicoes.nephelibata@gmail.com

Este livro foi publicado pela primeira vez em 2004 com apenas dois contos, "O clube" e o que dá título ao volume. Revi ambos e acrescentei mais algumas histórias, todas escritas no ano de 2021. Portanto, há um hiato de dezessete anos entre as duas histórias da primeira edição e as que foram agora acrescentadas. Porém, a predileção pelo grotesco e o estilo displicente permanecem, assim como o gosto pelas exceções.
   Dito isso, penso que o único objetivo da literatura na atualidade é afastar-nos, o máximo possível, da realidade da vida imbecil de nossos contemporâneos — esses animais que ainda se autodenominam filhos de deus.

Contos: Uma experiência alucinante / O paraíso está vazio / Patoplastia onírica / Por má influência de Mary / O batiscafo "Hamza" / Uma velha casa submarina / O Clube / Narcose onírica / O passageiro.

 

 

 
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Torturados [contos]
Sylvio B. Pereira (2022)
Brochura, 128págs.
Tiragem de 50 exemplares.
- Coleção Nevrose 02
Capa: Criança crisântemo (2003) de Aline Daka.
Este volume segue a ortografia dos originais.
Seleção e organização de Camilo Prado.

Disponível
R$ 35,00 (+ R$ 8,00 de envio - registrado econômico)
Aquisição: edicoes.nephelibata@gmail.com

Sylvio B. Pereira é mais um daqueles escritores que foram esquecidos pelo passar dos anos, pelas supostas "evoluções" literárias e, sobretudo, por conta do advento do retrógrado movimento "modernista". É um grande escritor? Não na sua totalidade. Trata-se aqui de uma obra inicial, por certo de um jovem, mas que demonstrava ser uma promessa. Que fim levou? De minha parte, infelizmente, nada posso dizer. É para mim um desconhecido. Ou quase.. 
    Antes, e que fique bem claro, não estamos aqui falando do Sylvio Pereira (1911-1995) autor de A primeira reportagem, mas de um outro Sylvio, mais antigo e, por isso mesmo, mais interessante.
   Lá por 2008, quando então eu cursava doutorado na Federal de Santa Catarina, li uma dúzia de histórias da literatura brasileira buscando "ausentes"; algo que denominei "a literatura do lado de fora", fora da historiografia e da crítica literária brasileira. Procurava entender, por exemplo, por que depois da atenção dada por Sylvio Roméro (já em 1888) à Sousândrade, somente em 1964 é que o poeta emerge do esquecimento pela publicação da obra de Haroldo e Augusto de Campos, Revisão de Sousândrade? Ou, por que, desde sempre, Adelino Magalhães é marginalizado?
   Nessa procura de respostas, um colega da universidade me emprestou Naturalistas, parnasianos e decadistas: vida literária do realismo ao pré-modernismo (1991), de Brito Broca, e ali encontro um artigo de 1958, "Documento de uma época", onde o controverso crítico fala sobre duas correntes literárias dos princípios do século XX que, mesmo com a reação dos "modernistas" à influência francesa (ao que parece eles preferiam a influência italiana), permaneceram vivas e que ele denomina "uma neonaturalista, outra decadente e mórbida". Acrescentando que "Deve-se notar, porém, que muitas vezes os escritores representativos de uma se encartavam também na outra", dando como exemplo os casos de Théo Filho e Benjamin Costallat. O que me parece perfeitamente compreensível; já que o Decadentismo, na prosa, está muito mais próximo do Naturalismo-Realismo do que dos simbolistas, com que costuma-se confundi-los. Portanto, não é que misturavam Decadentismo e Naturalismo, é que o Decadentismo trás consigo elementos do Naturalismo para desgosto de Anatole Baju, que desprezava os naturalistas e que afirmou, aliás, que os decadentes eram os "verdadeiros" realistas.
   Mas, deixando de lado as críticas ao crítico... Brito Broca diz que esses que ele denomina neonaturalistas e decadentes mórbidos tinham como características "no fundo, chocar a moral burguesa, escandalizar, o que não se tornava em certos casos incompatível com a sinceridade artística" e que faziam isso "narrando amores mórbidos, taras, vícios de toda espécie".
   Tal postura, evidentemente, ia na contramão do indianismo piegas dos "modernistas", por isso Broca afirmará que "Quase todos os neonaturalistas e decadentes declaravam-se contra o Modernismo ou pelo menos indiferentes à campanha renovadora que então se travava". E a partir daí começa a mencionar alguns escritores que se colocaram nessa trincheira: Coelho Neto, Humberto de Campos, Carlos de Vasconcelos, Jarbas Andréa, Madame Crysanthème e Raul de Polito (sic) e, então:

Um escritor, decerto, completamente esquecido, Sílvio B. Pereira surgia em 1922 com o livro de contos Torturados, narrativa cuja natureza podemos avaliar pelos títulos de alguns deles: "O Ebrio”, “O Tarado” etc.

   Como um bom rato velho de sebo, e depois de muitos desencontros devido a algumas imprecisões do Sr. Broca, eu consegui encontrar alguns dos livros que ele menciona, entre eles, Torturados, que o leitor tem agora em mãos fielmente reproduzido da edição original, publicada pelo Estabelecimento Graphico Canton & Beyer, em 1922, no Rio de Janeiro.
   Fora isso, descobri que na Revista Brasileira (Fase VII, Outubro-Novembro-Dezembro 2003, Ano IX, No 37) há a reprodução de um artigo de autoria de Sylvio B. Pereira intitulado "À margem das Décadas", originalmente publicado no Jornal do Brasil em 30 de janeiro de 1925. E nada mais posso dizer sobre esse autor.
   No entanto, sobre este livro, arriscaria dizer que traz em si algumas linhas muito próximas do que na Alemanha da mesma época denominava-se Expressionismus. Linhas como essas, de "A alma dos rios", que nos fazem lembrar de Georg Trakl:

Ha horas em que os grandes corvos negros descem da altura para virem pascer nas suas entranhas escuras e podres. Quando emmudece o bramido horrifico dos seus instrumentos de morte, póde-se ouvir o grasnar diabolico dos abutres, disputando-se entre si, numa furia faminta, os restos martyrisados das visceras humanas. As cruzes se multiplicam agora nos logares onde, dan­tes, floresciam laranjaes e murtas...

 Também em contos como "O ebrio", "O tarado", "O filicida", "Miserias", entre outros, são visíveis os elementos imagéticos ou temáticos que se aproximam do espírito do movimento expressionista alemão. E essa proximidade, evidentemente, decorre da comum influência decadentista. E decadentista sobretudo pelo relevo de urbanidade que visivelmente se destaca nos contos aqui presentes.
Sabe-se que o Decadentismo tinha em si elementos do Romantismo, assim como do Naturalismo-Realismo, e que lá do passado Hoffmann e Alan Poe (sempre eles) foram sombras comuns sobre o Decadentismo e o Expressionismo. Daí a dificuldade que os franceses encontram para encaixar um autor como Octave Mirbeau, por exemplo, que para uns é decadente e para outros realista.
Assim, Sylvio B. Pereira é realista, é naturalista e é decadente, e nem por isso deixa de ser atual. O conto que abre o volume, "O ebrio", é um quadro fiel do hoje das periferias do Brasil. Por outro lado, é também um escritor com tendências à reflexão psicológica, filosófica e social de seu tempo, e nesse aspecto, Brito Broca tem razão no reconhecimento que faz ao concluir seu artigo, de onde podemos inferir que Torturados é também um documento de época:

Toda essa literatura sensacionalista — e não recordamos senão algumas obras, de memória — passou sem deixar vestígio. Aliás, na maioria dos casos, foi apenas subliteratura. Não podemos, porém, deixar de reconhecer-lhe a significação como documento de uma época.

Aqui está, portanto, um "documento" de cem anos atrás, talvez de uma "subliteratura", de todo modo, é certamente uma "literatura sensacionalista", pois busca causar sensação, provocar emoções fortes no leitor, tal qual buscaram os expressionistas e os decadentistas. Exacerbando, marcando com cores fortes uma cena urbana, exibindo as torturadas vítimas das nevroses da civilização moderna.
Sendo assim, Sylvio B. Pereira, cuja biografia por hora parece perdida, ou pelo menos oculta, configura-se como um autor que pertence à corrente subterrânea da literatura brasileira; é, com esta publicação, mais um que emerge das profundezas de um século de esquecimento para a rasa lagoa da literatura de exceção, e, obviamente, para a seleta apreciação do raro leitor que o tem em mãos.

Camilo Prado
Rio Vermelho, junho de 2022.

Contos: O Ebrio / O Forte / O Tarado / A Alma dos Rios / O Filicida / Theorias / O Transfuga / Irredempção / Elvira / O Castigo / Julia / Miserias / Donata / Timidos / O Covarde.


 

 



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Pavor e outros contos nocturnos
João do Rio (2022)
Brochura, 148págs.
Tiragem de 50 exemplares.
- Coleção Nevrose 01
Capa: detalhes da ilustração (sem autoria) da
folha-de-rosto da 1a. edição de Dentro da noite, 1910.
Este volume segue a ortografia dos originais.
Seleção e organização de Camilo Prado.

Disponível
R$ 35,00 (+ R$ 8,00 de envio - registrado econômico)
Aquisição: edicoes.nephelibata@gmail.com

Nascido no Rio de Janeiro, João Paulo Alberto Coelho Barreto [1881-1921], ou João do Rio, como ficou mais conhecido, foi cronista, ensaísta, tradutor, jornalista, contista e um dos mais alinhados à estética do Decadentismo no Brasil. Soube como poucos pintar o submundo do Rio de Janeiro das primeiras décadas do século XX. Infelizmente, como a maioria de nossos melhores escritores, morreu jovem.
   Esta seleção, retirada de três de seus livros de contos, buscou reunir aquelas histórias mais grotescas, mais bizarras, aquelas em que mais se evidenciam as "nevroses", palavra das mais proferidas pelos decadentistas.
   Nesses contos o leitor não deve supor a demonstração de teses psicológicas, como querem alguns, mas apenas uma espécie de divertimento intelectual, uma provocação, uma lupa sobre o psicossocial. E, nesse aspecto, João do Rio não é muito original. Lá na velha Europa um outro João, João Loreno (Jean Lorrain), levou esse divertimento aos extremos. Jean Lorrain, Guy de Maupassant, Léon Bloy, entre outros que conformaram o que se poderia chamar de "prosa decadentista", exploraram muito as "nevroses" urbanas. Aliás, uma das características principais do Decadentismo foi justamente a de ser a primeira literatura inteiramente urbana. O Decadentismo trouxe as exacerbações da Literatura Gótica e do Romantismo mais radical para os centros urbanos, tirou dos grandes castelos, dos calabouços úmidos ou das bucólicas paisagens campestres para fechar num quarto, num bar, num beco, as emoções e paranóias de seus personagens. Pintando-os de modo mais naturalista.
   Assim, a originalidade de nosso autor não está na aclimatação de uma estética estrangeira, mas sim na descoberta de espécimes universais dentro da urbe carioca dos princípios do século XX. Ou seja, mais do que tomar um modelo estrangeiro e colori-lo com as cores locais, João do Rio mostra, descreve, aponta, revela que aqui, na outra margem do Atlântico, as nevroses eram as mesmas dos animais urbanos do velho mundo.
   De algum modo, não foram apenas os movimentos literários que se universalizaram pelo ocidente, também os vícios, as taras e as demências se espalharam junto com as noções de "modernidade" que a velha Europa, e a França em primeiro lugar, com seus falsos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade, enviaram a toda parte. E ler João do Rio é constatar isso: as nevroses do Decadentismo são elementos intrínsecos da urbanidade moderna.

Contos: Pavor / O club dos optimistas / A aventura de Rozendo Moura / O fim de Arsenio Godard / D. Joaquina / O bebé de tarlatana rosa / A menina amarella / Emoções / Historia de gente alegre / O carro da semana santa / Fumo.


 

 


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Nephelibatas em movimento